Professor da Unesc afirma que doença é a maior responsável por incapacidade no mundo
Quando você terminar de ler este parágrafo, mais de uma pessoa vai ter morrido em virtude de um AVC (Acidente Vascular Cerebral). Estatísticas demonstram que no mundo, a cada seis segundos, uma pessoa morre vítima dele. No Brasil, a doença cerebral é responsável por 100 mil mortes por ano e é hoje, a principal causa de incapacidade. Pelos dados, dá para perceber a gravidade da situação. A boa notícia é que, com cuidados relativamente simples, é possível prevenir o problema ou mesmo minimizar as suas consequências.
Em 29 de outubro ocorreu o Dia Mundial de Combate ao Acidente Vascular
Cerebral, que tem a finalidade de conscientizar as pessoas sobre as formas de prevenção da doença cerebral que mais mata no Brasil. Em 2018, a Rede Brasil AVC tem como tema da campanha de prevenção “Reerguendo-se após AVC”, com o objetivo de mostrar que é possível superar as limitações do acidente vascular cerebral.
O AVC, conhecido como “derrame”, gera a interrupção da passagem do sangue no sistema nervoso central. Segundo o professor do curso de Medicina da Unesc e neurologista, Eraldo Belarmino Júnior, existem dois tipos de AVC: isquêmico e hemorrágico. O primeiro, causado por obstrução da circulação de sangue em um vaso no cérebro e o segundo, pelo rompimento de uma artéria cerebral, ocasionando sangramento.
O Acidente Vascular Cerebral pode ocorrer em qualquer idade e é necessário ficar alerta aos sinais. Mas os grupos formados por idosos, diabéticos, hipertensos, pessoas com ameaça de AVC prévio (teve sinais, mas não teve a lesão, sendo transitório), pacientes com problemas cardíacos, alcoolistas, obesos, sedentários e fumantes estão mais propensos a desenvolver a doença.
“Sorria, Abrace, Música e Urgência”
O neurologista conta que nos serviços de saúde, especialmente o Samu, se trabalha com o lema “Sorria, Abrace, Música e Urgência”, para orientar a população sobre como detectar que outra pessoa está sofrendo um AVC. “Se a pessoa está um pouco confusa, peça para ela sorrir. Um desvio labial pode ser sinal de AVC. Peça também para ela te abraçar. Se ela tiver perda de força ou dificuldade para movimentar o braço, pode ser AVC. Já no caso da musicalidade, peça para ele ou ela falar ou cantar e perceba se está com a fala enrolada ou arrastada. A partir do momento que você tem algumas dessas alterações, ligue para o Samu (192) pedindo ajuda para atendimento. Estas são orientações simples e que a população deve saber”, explica.
Outros sintomas como dor de cabeça forte de início súbito, vômitos em jato, tontura e perda de equilíbrio, dificuldade para engolir ou confusão mental podem estar associados com a doença.
Belarmino afirma que quanto mais rápido for o atendimento, maior a possibilidade de minimizar as sequelas e prevenir a morte. “Tempo é cérebro e o quanto antes o paciente receber atendimento em uma unidade de AVC ou hospital, melhor. Uma medicação que desfaz o trombo ou coágulo aplicada em até 4h30 após o início dos sintomas reduz o índice de mortalidade e o de sequelas. Se o caso for um vaso maior obstruído, há a possibilidade de procedimento neurocirúrgico. O ideal, neste caso, é que em até 6 horas esse paciente esteja recebendo atendimento adequado”, conta.
O professor da Unesc conta que a redução das sequelas causadas pelo AVC diminui não apenas os custos econômicos que envolvem o tratamento e a incapacidade do paciente, mas problemas psicológicos que afetam as vítimas da doença e seus familiares. “Claro que mesmo trabalhando por meio das unidades de AVC (centros especializados no atendimento), há pacientes que vão sofrer algum tipo de comprometimento. Mas conseguindo diminuir a intensidade da lesão, teremos um trabalho de reabilitação mais eficaz e que melhore a qualidade de vida não só do paciente, mas de todas as pessoas que estão envolvidas com ele”.
Na região, esse trabalho de reabilitação é oferecido gratuitamente pela Unesc, por meio do Centro de Reabilitação (CER), que possui profissionais capacitados para o atendimento desses pacientes. Médicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, fonoaudiólogos, enfermeiros e assistentes sociais são alguns dos profissionais que trabalham de maneira integrada na reabilitação e ressocialização de pessoas que tiveram AVC.
Para o primeiro atendimento aos pacientes com AVC, a região conta com o Samu e hospitais, sendo que em Santa Catarina existe uma unidade de AVC, localizada em Joinville, uma das primeiras a serem implantadas no país.
Cuide-se
Segundo Belarmino, muitas pessoas não se dão conta dos problemas e do impacto da doença para a sociedade e qualidade de vida dos indivíduos acometidos e familiares. Por isso, prestar atenção nos hábitos de vida é necessário, segundo o neurologista. Ir ao cardiologista e fazer um check-up, fazer exames de rotina são algumas das atitudes que vão colaborar na prevenção de problemas de saúde como o AVC.
Em alguns casos, se você observar ou estiver sentindo dor de cabeça, tontura, esquecimento, dificuldade para caminhar, perda de força ou dificuldade de equilíbrio, pode consultar um neurologista ou um médico de confiança, que deve efetuar as orientações iniciais e realizar o encaminhamento para o especialista.
A prevenção também se faz com hábitos saudáveis. “Pessoas que procuram ter uma rotina de sono, ter uma alimentação saudável, exercitar o corpo de maneira adequada e com orientação e não fumar vão ter uma longevidade e uma qualidade de vida maior”, comenta o professor da Unesc. “É mais fácil parar um veículo no plano que ladeira abaixo. Se você possui fatores de risco e não se previne ou não segue orientações profissionais fica mais difícil de frear a progressão da doença. Mas se procura se cuidar através de hábitos saudáveis, consultas médicas regulares e segue orientação profissional, mesmo acometido pela doença esse veículo fica mais fácil de frear”, complementa.
Texto e foto: Milena Nandi