Unesc é a primeira Universidade Comunitária a receber o Congresso Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia

Unesc é a primeira Universidade Comunitária a receber o Congresso Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia

Pela primeira vez, uma Universidade Comunitária recebe o Congresso Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia (CBEE). Composto por minicursos; mesas redondas; apresentação de trabalhos; feiras; entre outros, a 14ª edição do evento, que tem a Unesc como sede, teve início  domingo (14/07), e segue até quinta-feira (18/07).

 

Durante estes dias, os participantes, que vão de especialistas a representantes de Organizações Não Governamentais (ONGs), passando por professores; pesquisadores; estudantes e agricultores familiares, debaterão sobre como diferentes sociedades interagem com o meio ambiente.

 

“É um grande privilégio para uma Universidade Comunitária receber um congresso que valoriza as políticas afirmativas para trabalhar as temáticas voltadas à questão quilombola e dos povos originários. É uma temática que representa a nossa causa, e este evento tem na programação conteúdos muito ricos, que não somente farão os participantes refletirem sobre cada pauta, mas os avanços para que possamos identificar oportunidades, melhorarmos por meio das nossas pesquisas, as proposições para projetos, para novas políticas públicas, para artigos científicos, além das novas soluções para melhorar o ambiente de vida das pessoas”, enfatizou a pró-reitora de Pesquisa, Pós-graduação, Inovação e Extensão da Unesc, Gisele Coelho Lopes.

 

“Entendemos a Universidade como lugar de diálogo e o tema do congresso provoca o repensar sobre o ambiente de vida. Este é o  local para isso, não somente na fala, mas na prática, para que possamos ter uma consciência sustentável do que fazemos e como alcançar aqueles que não estão aqui”, acrescentou.

 

Tema central

 

O tema central do congresso deste ano é "Diversidade biocultural: aquilombar, aldear e reflorestar a vida" e tem como objetivo discutir progressos na pesquisa dessas áreas, com foco nos interesses dos povos tradicionais, indígenas e não indígenas, e abordar desafios e ameaças à sociobiodiversidade. O evento destaca ainda importância da diversidade sociocultural e a contextualização das fronteiras territoriais, geopolíticas, hídricas, culturais e da biodiversidade para a comunidade acadêmica, governo e sociedade civil.

 

O presidente da comissão organizadora, Carlyle Torres Bezerra de Menezes, salientou que o evento pretende gerar um impacto positivo com relação à participação de profissionais e estudantes do Brasil e de outros países, além de representantes dos povos e comunidades tradicionais de todas as regiões.

 

“Isso somente será possível por meio da participação e da construção coletiva, que envolve de forma ampla e articulada a presença, tanto da comunidades acadêmicas, quanto os representantes dos diversos segmentos da sociedade, dos povos originários, profissionais, pesquisadores e estudantes brasileiros e internacionais, potencializando a divulgação científica e o compartilhamento de trabalhos de Pesquisa, Ensino e Extensão, com momentos de formação, reflexão e educação, que permitem o intercâmbio de experiências, a partir de enfoques teóricos e metodológicos que possibilitem a geração de inovações nos processos de conhecimento antropológico, etnobiolológico e etnoecológico”, comentou.

 

Carlyle ainda aproveitou para fazer uma reflexão sobre o momento atual no Brasil com relação ao que chamou de crise socioambiental e civilizatória. “Vivemos em um momento histórico no qual as constantes crises originadas a partir da incoerências do sistema socioeconômico hegemônico contribui para uma grave crise ecológica em que os efeitos das mudanças climáticas é uma das faces vivenciadas cada vez mais intensamente em escala planetária”, ressaltou.

 

“De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), os atuais compromissos globais para conter as mudanças climáticas estão cada vez mais aquém do necessário para limitar o aquecimento global a 1,5ºC, aumento este que já seria suficiente para provocar graves danos ao homem.Os mais recentes estudos e relatórios divulgados pelo Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC) advertem que as previsões originais sobre a irreversibilidade dos efeitos catastróficos do colapso climático são reais e estão em processo de aceleração”, acrescentou.

 

Ainda dentro do evento, está prevista a realização de uma feira agroecológica e da produção artesanal de povos e comunidades tradicionais, que contará com espaços de divulgação de instituições e empresas públicas e privadas de pesquisa básica e aplicada, voltadas para a produção

de bens e serviços no campo da sociobiodiversidade.

 

Programação

 

O congresso é dividido em diversos eixos temáticos, como: povos e comunidades tradicionais, territórios e mudanças climáticas; soberania alimentar, sistemas agrícolas tradicionais e agroecologia; manejo e conservação da biodiversidade: diálogos de saberes e experiências; conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade: estratégias de proteção e salvaguarda; biodiversidade, cosmologias e medicinas tradicionais; gênero, diversidade e etnoecologia; políticas públicas, povos e comunidades tradicionais; entre outros.  A programação completa está disponível em: https://www.unesc.net/cbee2024/programacao.

 

“É uma grande satisfação para nós receber pessoas de todo o país neste congresso. Com certeza, veremos muitas ideias que serão colocadas em práticas para que possamos viver de uma forma diferente do que vivemos até agora, sempre em busca do respeito, principalmente, aos saberes tradicionais e comunidades tradicionais, para que corrija algumas questões que durante muito tempo foram esquecidas, mas ao mesmo tempo são ameaçadoras”, falou a coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas  (Neabi), Normélia Ondina Lalau de Farias.

 

O congresso é organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCA) da Universidade, em colaboração com a Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia (SBEE), e grupos de pesquisa das Universidades Federais de Santa Catarina do Rio Grande do Sul.

 

“Nós que estamos aqui somos, de alguma maneira, guardiões de uma trajetória longa, de tantas perspectivas teóricas e metodológicas construídas ao longo de quase 30 anos de existência do SBEE.  Ao longo desse período, a crise ambiental  se aprofundou. Hoje, conversar sobre os saberes tradicionais se tornou quase um lugar comum, para vários outros campos, muito para além da etnia e biologia, antropologia”, comentou o presidente da  Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia (SBEE), Emanuel Blarte Almada.