Trabalho realizado apontou que 88,4% dos usuários de medicamentos de tarja preta fazem uso prolongado, além do recomendado
Farmacêutica na Unidade Básica de Saúde do Centro, Maria Helena Peruch realizou uma pesquisa em 2017 para o mestrado em Farmagiologia na Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc). O objetivo foi conhecer o perfil dos usuários de Clonazepam e Diazepam e encontrar estratégias para o consumo prolongado de medicamentos de tarja preta, com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde.
Com a tese finalizada no ano passado, ela foi escolhida para ser exposta e apresentada no XII Encontro Catarinense de Saúde Mental da Ufsc, na última quinta-feira (2). “Eu me sinto muito feliz e satisfeita por poder contribuir e propor estratégias que podem acrescentar na vida dos cidadãos”, diz a mestre e farmacêutica Maria Helena.
A pesquisa se deu por meio de entrevistas com usuários do 24h do bairro Próspera e também da Policlínica do Rio Maina, indicando que 88,4% dos usuários desses medicamentos de tarja preta fazem o uso prolongado, em média por cerca de 8 anos, sendo que o indicado seria de, no máximo, 6 meses. De acordo com Maria Helena, isso gera importantes prejuízos sociais e econômicos para o indivíduo, além de representar um problema no contexto da saúde pública.
Riscos do uso inadequado
As pessoas que fazem o uso inadequado estão sujeitas a perda de memória e de cognição, como também uma maior tolerância aos efeitos esperados pela medicação. Segundo a farmacêutica, mais da metade dos entrevistados demonstraram o interesse em largar a medicação. “Isso significa que existe uma demanda a ser atendida pela atenção básica e que há muito a se fazer”, afirma.
Para a profissional, os resultados foram alarmantes e evidenciou que existem atitudes a serem tomadas. “É necessário orientar a primeira dispensação para a prevenção do uso prolongado e o engajamento de farmacêuticos e demais profissionais da saúde nesse processo”, comenta.
Medicamentos de ‘tarja preta’
Os benzodiazepínicos (BZDs) são remédios conhecidos como ‘tarja preta’ e são mais utilizados para tratar insônia e ansiedade, estando entre os medicamentos mais consumidos do mundo. Exemplos deles são o Clonazepam e o Diazepam, que se popularizam rapidamente devido à menor tolerância das pessoas ao estresse e à prática da medicalização dos problemas pessoais, sóciofamiliares e familiares.
Texto: Maria Henrique Leandro
Foto: Divulgação/Decom