Mural de artista visual consagra legado de primeira professora negra da Unesc

Mural de artista visual consagra legado de primeira professora negra da Unesc
Grafite criado em parede estratégica do campus faz parte da programação do mês voltado à temática afro-brasileira

“Essa obra é muito significativa para mim, pois reflete os valores e o significado que a Unesc tem em minha vida. A Universidade representa um ambiente de aprendizado e crescimento, no qual pude desenvolver minhas habilidades e construir o meu caminho profissional com sucesso”. O relato é de Vani Anacleto, que em 1978 se tornou a primeira professora negra a lecionar na Instituição, e agora está imortalizada em uma vibrante obra de arte que decora uma das paredes do Bloco Administrativo da Unesc. 

A artista responsável pelo retrato que homenageia a história e o legado da ex-professora é Monique Cavalcanti, também conhecida como Gugie Cavalcanti. Com sua técnica de grafite marcante, a profissional já reconhecida por obras em todo o país, transformou a parede em uma exibição de cores e expressões que capturam a força, a beleza e a importância da história de Vani, responsável por ministrar as aulas no curso de Educação Física pelo período de 20 anos na Unesc. 

“Eu tinha 22 anos quando iniciei a carreira como professora. Trabalhei muito pela educação e transmitia, nas minhas aulas, um pouco de tudo sobre a vida. Fiquei muito feliz com essa homenagem. A obra é um lembrete constante de como a Unesc é uma instituição que acolhe e valoriza a diversidade em todas as suas formas. Tenho muito orgulho em fazer parte dessa comunidade e em ser representada nessa arte tão inspiradora”, declara Vani, olhando atentamente cada detalhe exposto no retrato.

Por meio de cores vibrantes e traços expressivos, a artista Gugie retrata a figura de Vani com um olhar forte e determinado, simbolizando a força e a resistência da comunidade negra. Além disso, a obra também busca incentivar a reflexão sobre a importância da representatividade e da diversidade nos espaços públicos e acadêmicos. 

Para a coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) da Unesc, Normélia Ondina Lalau de Farias, o retrato da primeira professora negra da Universidade é uma inspiração para as próximas gerações de educadores e estudantes. 

Ela destaca que a obra é ainda mais significativa pela criação no momento em que a instituição comemora 55 anos de fundação. “O retrato não apenas homenageia a trajetória de Vani, mas também simboliza o espaço e o crescimento para outras pessoas que se identificam com a luta e a história da educadora. Ela abriu portas para muitos, incluindo a mim mesma, enquanto mulher negra e professora”, enfatizou ela. 

Trabalho intenso

A materialização da pintura exigiu um trabalho intenso e cuidadoso ao longo de três dias, e o resultado final é um retrato cativante e inspirador. “Fiquei muito feliz com o convite, primeiro por estar em uma Universidade e trazer um pouco da minha pesquisa. É uma honra poder compartilhar o que eu faço e ter esse reconhecimento institucional”, agradeceu ela, que ficou encantada ao conhecer a história de Vani e inspirar-se para o trabalho. 

“Eu já tive a oportunidade de pintar Antonieta de Barros e lembro de ter uma emoção semelhante ao fazer essa obra. Ela tem uma conexão muito forte e é muito especial”, reforça Gugie. 

Para Normélia, o retrato é uma forma de reconhecer e valorizar a contribuição de Vani para a formação de muitos profissionais e para a construção de uma Universidade mais inclusiva e diversa.

“O caminho não é fácil, mas devemos sonhar que é possível. Não existem barreiras quando queremos. Somos mais fortes do que toda a dificuldade encontrada no percurso”, reforçou a homenageada.



Celebração

A obra criada faz parte da programação da 3ª Semana Acadêmica Integrada dos cursos de Artes Visuais e Teatro. A criação do mural foi viabilizada por meio da parceria com o Neabi, que também lidera diversas ações neste mês que marca o Maio Negro. 

A obra contou ainda com a colaboração dos estudantes do curso de Artes Visuais Lara Pacheco, João Pedro de Carvalho de Bona, Hilda Karolini Maziero, Alex Cardoso dos Santos, Gabriela Selau Benetti, Bruna da Silva Ribeiro, Shara Jesus De Oliveira, Larissa Aparecida do Nascimento, Martina Gornicki e Cecilia de Oliveira David.

“Ao retratar uma figura histórica como a ex-professora, Gugie destaca a importância da preservação da memória e da história das pessoas negras e o papel que as artes visuais podem desempenhar na promoção da igualdade e da inclusão”, sublinhou a coordenadora do curso de Artes Visuais, Daniele Zacarão. 



Sobre a artista

A artista Gugie expressa sua poética em diversos formatos, como murais, telas, performances e desenhos digitais, abordando temas como convivência social e as relações interpessoais. 

Como uma pessoa negra, ela busca na arte produzida nas ruas um espaço de diálogo e representatividade e fortalecendo a visibilidade de negros como protagonistas. “O protagonismo negro está posto. É gente da gente fazendo e contando nossas histórias a partir da arte”, finalizou Normélia.



Texto: Daniela Savi: Foto: Marciano Bortolin