Unidade atende os 17 estudantes surdos da rede municipal. Os alunos ficam em tempo integral, com aulas de Libras e Língua Portuguesa no contraturno escolar
Quem entra pelos portões da Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental (EMEIEF) Professora Maria de Lourdes Carneiro já percebe que a unidade de ensino vive e respira a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Nas paredes tem cartazes que rementem ao idioma, frases que reafirmam a importância da educação e as placas de sinalização, que são bilíngues: na Língua Portuguesa e Libras. Este ambiente especial para alunos é a Escola Polo de Surdos de Criciúma, sendo que a unidade atende os 17 alunos surdos da rede municipal de ensino. Os estudantes recebem todo o apoio necessário, com a instrutora de Libras, professora bilíngue e mais um profissional de Língua Portuguesa.
O projeto iniciou no ano letivo de 2018, e mudou a escola por inteiro. Além da decoração, o idioma mudou o coração da escola. Os professores, monitores, serventes e alunos aprenderam ou aprendem a língua de sinais. A unidade atende todos os estudantes surdos da rede municipal, da Educação Infantil ao 6º ano. Em um ano que a Escola Polo de Surdos foi implantada, todos foram unânimes com a melhora do ensino aprendizagem das crianças.
Evolução na aprendizagem
Segundo a instrutora surda de Libras, Silvia Vitali, os alunos chegaram na escola usando sinais que faziam em casa para se comunicar com os pais. “Às vezes, eles fazem o sinal errado, eu percebo, mostro o sinal correto e sempre cobro para que eles façam em Libras. Demora um pouco para se adaptarem, mas com o tempo eles vão aprendendo”, explica em Libras, a instrutora. Pensando nisso, os alunos surdos estudam em tempo integral, no contraturno escolar eles têm aulas de Libras e também de Língua de Portuguesa.
Quando eles não estão com as atividades do contraturno, os alunos estão nas salas de aula com as suas turmas. Durante as aulas, os estudantes têm a presença de uma professora bilíngue. Nanci Virtuoso, uma dessas professoras, conta que o relacionamento com a professora regente é próximo. “É um trabalho feito em conjunto. Eu e a professora regente nos reunimos, ela faz o planejamento dos alunos ouvintes e eu estou junto para adaptar para alunos surdos. Eles só têm a ganhar com a Escola Polo. Aqui, eles aprendem a língua materna deles, Libras, e a Língua Portuguesa”, ressalta a professora.
A professora regente, uma vez na semana, faz uma aula de Libras para os estudantes ouvintes da turma. “Os ouvintes vão aprendendo também a Língua de Sinais para que na hora do recreio possam brincar todos juntos, conversar dentro da sala de aula. Hoje, existe a comunicação e a inclusão”, completa.
Esta inclusão e o nível de comunicação, pode ser visto nos corredores e no rosto dos pequenos. Como no caso da Thalita Rosso Colle e do Davi Silva Oliveira da Rosa, ambos estudam no 6º ano. A estudante lembra que na sua antiga escola ela tinha apenas uma amiga e hoje é diferente. “Eu gosto daqui, fiz bastante amigos surdos e ouvintes. Aqui temos a professora bilíngue que ensina junto com a outra professora. Eu estou aprendendo bastante”, comenta. “Eu gosto muito daqui e todos são os meus amigos. Eu gosto muito da Nanci”, acrescenta o Davi, em Libras.
Como tudo começou
Conforme a coordenadora da Educação Especial do município, Úrsula Silveira Borges Domingos, a EMEIEF Profª Maria de Lourdes Carneio foi escolhida para ser a Escola Polo de Surdos por já ter sala de Atendimento Educacional Especializado (AEE). “A escolha da Escola Maria de Lourdes foi a nossa única opção desde o início. Queríamos que os alunos ficassem todos juntos para ter uma interação entre eles. Os estudantes vêm de todas as regiões de Criciúma para a unidade, que fica na Vila Francesa. A Secretaria de Educação disponibiliza o transporte das crianças”, frisa a coordenadora.
Assim, a escola começou o processo de adaptação para receber os novos alunos. “Foi um desafio, mas é bem gratificante. Realmente, foi um desafio como equipe, a gente teve que estudar, todos éramos leigos no assunto, então todo mundo começou a ler bastante. Tivemos que adequar o ambiente escolar, como na questão das identificações das salas. A área de Educação tem muitos desafios, mas escola respirou e abraçou esses alunos e fizemos tudo para recebê-los bem, e também ganhar a confiança dos pais e mostrar que era a escolha certa”, enfatiza.
Além disso a escola parceria com o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) de Criciúma, instalou o sinal audiovisual para os alunos surdos saberem que é a hora do recreio ou para voltar para a sala de aula. O sinal funciona com uma luz intermitente, além de emitir o tradicional som. O projeto foi do estudante e também vereador mirim da Câmara de Vereadores, Davi Corrêa da Silva, em 2018.
Curso ofertado pela Secretaria Municipal de Educação
A Secretaria Municipal de Educação oferta aulas de Libras para os professores, pais e familiares dos alunos surdos. O corpo docente da Escola Maria de Lourdes tem preferência e, depois disso, é liberado para o restante. Desde 2017, 220 pessoas já se formaram no curso.
Texto e fotos: Ana de Mattia