O número de assassinatos a candidatos e pré-candidatos as vagas disputadas no período eleitoral triplicou nos últimos quatro anos. Um levantamento conduzido pelas Organizações não-governamentais (ONGs) Terra de Direitos e Justiça Global indica que foram registrados 46 homicídios em 2016 e até setembro deste ano, esse número saltou para 136 mortos. Fora desta estatística o portal Brasil61.com apurou que ao menos outros três atentados a candidatos foram registrados na última semana de outubro, sendo dois com mortes, além de um atentado a um jornalista sob a suspeita de denúncias políticas.
No Pará, a casa da candidata à vice-prefeita de Belém, Patrícia Queiroz (PSC), foi alvo de tiros durante a madrugada do dia 23 de outubro. Pelo menos dois disparos atingiram a residência, ninguém ficou ferido. Em Fortaleza, o corpo de um candidato a vereador de Caucaia, foi encontrado com marcas de faca dentro de sua casa, na noite do dia 26 de outubro. Evangelista de Sousa Jerônimo, conhecido como Batista da Banca, era candidato a vereador pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB).
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Em Flores da Cunha, no Rio Grande do Sul, João Carraro, também do PSB, foi morto a tiros, no dia 27 de outubro, enquanto fazia atividade de campanha na localidade de Lagoa Bela, interior do município.
Para o analista de risco político, Matheus Albuquerque a violência está diretamente relacionada ao local onde acontece. “Se pegarmos as metrópoles mais violentas do Brasil e fizermos uma relação com o número de casos de violência contra candidatos, é possível enxergar essa relação”, afirma.
A coordenadora do levantamento, Elida Lauris, aumenta esse leque. Segundo ela, casos como os citados, apesar de não terem sido contabilizados pela pesquisa, repetem a questão motivacional observada pelo levantamento. “Você tem fenômenos de rixas familiares, disputas de prefeitos e vice-prefeitos. Em alguns estados, dados relacionados com corrupção, atividades ilícitas que acabam vulnerabilizando e induzindo as disputas que levam a assassinatos políticos. Temos também questões relacionadas com conflitos fundiários, conflitos por posse da terra, dívidas de campanha. Cada estado, as situações vão ganhando uma certa conotação de violência que acaba em assassinato ou atentado”, cita.
Uma dessas situações levou o jornalista Romano dos Anjos, apresentador da TV Imperial de Roraima a ser sequestrado e torturado no dia 26 de outubro. No dia seguinte ele foi encontrado com vida e com ferimentos nos braços e nas pernas. A principal linha de investigação da polícia, é que a violência tenha acontecido como forma de represália às reportagens que denunciavam supostos esquemas de corrupção de parlamentares e candidatos das eleições municipais do estado.
Em Patrocínio, Minas Gerais, diferente do jornalista o candidato a vereador Cássio Remis dos Santos, não resistiu e morreu após denunciar supostas irregularidades da atual gestão da cidade. Segundo explica a esposa do político, Nayara Queiroz Remis, Cássio fazia uma live nas redes sociais no momento exato em que foi alvejado pelo ex-secretário de obras e irmão do atual prefeito, Jorge Marra.
“Em pleno século XXI, às vésperas de uma eleição, estava fazendo uma live denunciando que o prefeito atual reformava, com dinheiro público, o passeio de uma casa que seria comitê eleitoral. Uma pessoa que é capaz de matar a outra, em frente a uma câmera de segurança, com seis tiros, às 15h30, indica que ela e sua família realmente são capazes de tudo, né?”, indaga.
Nayara afirma que o marido não chegou a fazer nenhum boletim de ocorrência por ameaça antes do atentado, mas no dia de sua morte, comentou com a esposa que gostaria de contratar seguranças. A família tem medo que algo possa ocorrer novamente, mas Nayara afirma que não deixará de denunciar e fará justiça.
Eleições desfalcadas
De acordo com a coordenadora do Mestrado em Governança, Tecnologia e Inovação da Universidade Católica de Brasília, Marcelle Gomes Figueira, é preciso avaliar também como fica o cenário político após estes atentados.
“O próprio assassinato da vereadora Marielle Franco, né? A forma como essa violência contra os candidatos têm afetado as eleições. Me parece pouco analisado e estudado”, questiona.
Segundo os indicativos de violência contra candidatos, 91% das vítimas são homens e 83% dos casos ocorrem no interior dos estados, como em Patrocínio. Destes registros, apenas 12% das investigações são concluídas. Ao todo, o levantamento mapeou entre 2016 e setembro de 2020, 327 casos de violência contra políticos eleitos, candidatos e pré-candidatos, sendo 85 ameaças, 33 agressões, 59 ofensas.
Fonte: Brasil 61