A sepse (infecção grave) é responsável por mais mortes de pacientes em UTI (Unidade
de Terapia Intensiva) que o infarto. Atualmente, 40% dos óbitos em UTI são causados
por infecção generalizada. Na Unesc, o assunto é estudado há anos e o professor doutor
Felipe Dal Pizzol é um dos pesquisadores referência no assunto. Há 15 anos
desenvolvendo pesquisa com sepse, Dal Pizzol atualmente faz parte seu trabalho em
parceria com o Instituto Pasteur, em Paris, na França, um dos mais renomados centros
mundiais quando o assunto é estudo da biologia dos microorganismos, das doenças e
vacinas. O professor da Unesc foi um dos primeiros no mundo a pesquisar sobre os
mecanismos da disfunção do cérebro na sepse.
Dal Pizzol, que no primeiro semestre de 2018 está dividindo suas pesquisas entre os
laboratórios da Unesc e do Instituto Pasteur, comenta que quem sobrevive à sepse tem
problemas para voltar à vida ativa. Casos de déficits cognitivos, aceleração do processo
de demência, dor crônica, fraqueza muscular e dificuldades de fazer as tarefas do dia a
dia são detectadas nesses casos. “Trabalhamos mais com a parte da sequela. Em geral as
pessoas pensam que doença de UTI é aguda, que a pessoa sai de lá curada. Hoje já
sabemos que não, que o paciente fica ocasionalmente cronicamente doente. Estudamos
como o cérebro reage à sepse, mas sabemos que ela afeta todos os órgãos. A pessoa
pode desenvolver, por exemplo, doença renal ou disfunção no pulmão. Entretanto, a disfunção do cérebro pode, de maneira diferenciada, ser duradoura”, conta o
professor da Unesc.
Quando iniciou a pesquisa, Dal Pizzol estudava os efeitos da sepse no organismo de
maneira geral. Há aproximadamente dez anos, ele tem se dedicado a investigar a
disfunção cerebral relacionada à sepse. “Hoje entendemos muito melhor o que acontece
no cérebro. Como a inflamação acontece no cérebro, qual o tipo de estímulo dessas
células, entre outros diferentes mecanismos”.
Segundo Dal Pizzol, o estudo do comportamento do cérebro a longo prazo na sepse é
recente. “Fomos um dos primeiros do mundo a fazer em modelos animais. A primeira
demonstração de que um animal que sobrevive à sepse fica com alteração foi na tese da
professora Tatiana, que demonstrou que 30 dias após a cura, os ratos ficam com
alteração cognitivas, não conseguindo aprender uma tarefa que um rato normal faria”,
conta. Dal Pizzol tem a parceria dos professores doutores da Unesc Tatiana Barichello,
João Quevedo, Cristiane Ritter e Cristiane Damini Tomasi em seus estudos.
Relação com a doença de Alzheimer
Conforme os estudos, depois da infecção grave, mesmo que não afetado diretamente o
cérebro, fica em um estado de inflamação crônica, de menor intensidade, mas que
perdura. “Em alguns animais que tem um evento agudo, seis meses depois ainda
possuem o cérebro com inflamação, que parece em alguns momentos a que tem no
Alzheimer”, revela.
Dal Pizzol explica que a Doença de Alzheimer deposita algumas proteínas no corpo que
faz com que o sistema imunológico do cérebro reaja. Algo semelhante ao que ocorre na
infecção generalizada. “Na sepse há inflamação crônica e ela faz com que tenha
disfunção no neurônio que leva ao fenótipo, à expressão clínica do rato não aprender ou
de ficar com problemas cognitivos”, explica.
Oportunidades para formação profissional
As pesquisas desenvolvidas envolvem os alunos de graduação, mestrado e doutorado da
Unesc e pesquisadores e estudantes de mestrado e doutorado e pós-doutorado do
Instituto Pasteur. “O laboratório que eu trabalho na França atua com disfunção muscular e neurológica. Então é um caminho aberto para os pesquisadores do Pasteur virem para a Unesc e para os nossos alunos de mestrado e doutorado irem para lá”.
Dal Pizzol conta que os acadêmicos de graduação da Unesc que participam de projetos
de iniciação científica também podem ter contato com a pesquisa. “Tudo é
compartilhado com eles. Fazer pesquisa abre um mundo para o aluno de graduação. Ele
aprende habilidades de um conteúdo específico em profundidade, mas abre a
perspectiva de como aprender, como buscar, de como responder uma pergunta
científica. Os mecanismos que a gente usa na pesquisa para desenvolver o raciocínio, a
hipótese, pensar no problema e para resolver o problema é muito importante na
formação. E a Unesc é exemplo de colocar o aluno dentro do laboratório para participar
desse processo”, considera.
Currículo de Felipe Dal Pizzol
Graduado em Medicina e doutor em Ciências Biológicas (Bioquímica), é professor do
curso de Medicina da Unesc e vinculado ao PPGCS (Programa de Pós-Graduação em
Ciências da Saúde). Membro fundador do Comitê Coordenador da BRICNet (Brazilian
Research in Intensive Care Network) e atual tesoureiro, o professor é ainda secretário do Instituto Latino Americano de Sepse e presidente da Sociedade Catarinense de Terapia Intensiva.
Membro do Comitê de Sedação, Analgesia e Delirium da Associação de Medicina
Intensiva Brasileira, atua como editor associado da Revista Brasileira de Terapia
Intensiva, PLOS ONE, Intensive Care Medicine Experimental e Oxidative Medicine
and Cellular Longevity e como revisor de diversos periódicos científicos e agências de
fomento nacionais e internacionais. Tem experiência em Medicina Intensiva e
Pneumologia, atuando principalmente nos temas: mecanismos da disfunção cerebral na
sepse, sedação e delirium, mecanismos moleculares da sepse e biomarcadores em
doenças pulmonares obstrutivas.
Texto e foto: Assessoria de Imprensa, Unesc